quinta-feira, 18 de abril de 2013

CONTO DIALOGADO “COLOCANDO A CONVERSA EM DIA”

COLOCANDO A CONVERSA EM DIA

— Oi Vera, há quanto tempo?

— É faz muito tempo mesmo!

— Está indo para onde?

— Para Santo Antônio, mas estou levando somente uma das minhas crianças.

— Você tem quantas crianças?

— Três.

— Você já se casou?

— Casei que nada.

— Mas tem que casar?

— Casar, Deus que me livre disso!

— E a segurança de seus filhos? Você não pensa nisso?

— Não gosto de ficar presa a homem nenhum. Mulher casada é igual a passarinho na gaiola. Ainda quero um pouco de aventura nesta vida.

— É mesmo! E seu marido não tem ciúmes?

— Morre de ciúme de mim. Ele me trouxe no ponto e ficou dando uma porção de recomendações.

— E seus pais, como vão?

— Não gosto nem de lembrar. Os dois morreram no ano passado; com apenas uma diferença de trinta dias um do outro. O meu pai morreu primeiro e depois, de tristeza, a minha mãe também morreu.

— Foi alguma doença que pegou os dois?

— Nada de velhice mesmo.

— Você é a caçula lá da sua casa, não é?

— Não! Você não se lembra dos meus irmãos?

— Juro que não me lembro mesmo.

— Pois é! Eu sou a do meio. Tenho um irmão mais velho e uma irmã mais nova do que eu.

— Estou tentando puxar pela memória, mas acho que não lembro realmente deles.

— O meu irmão é o Jackson, mulherengo igual a ele eu desconheço. Ele já “juntou” com mais de umas dez mulheres. Só as que eu fiquei sabendo.

— Dez mulheres? Ele deve ser muito bonito?

— Que nada! Eu não entendo essas moças de hoje, não podem ver um homem em uma “motoca” que já vão logo querendo agarrar.

— E sua irmã?

— Ela acabou de ganhar um bebê.

— Ela é casada?

— Também não. Ela escondeu a gravidez até não poder mais. Quando ficamos sabendo, ela já estava com um barrigão enorme. Mas a criança é uma linda menina muito sorridente. Estou indo visitá-la.

— E agora, o pai da criança assumiu a responsabilidade?

— Que nada. O pai da menina é um adolescente como a minha irmã mesmo, daqueles que os pais é que sustentam pela vida afora. Depois que a criança nasceu, os dois terminaram o namoro e pronto.

— Nossa! Que história complicada a da sua família. Ainda bem que eu sou filha única.

— Sorte a sua mesmo. Família é muito bom por um lado, mas pelos outros lados dá um trabalho danado.

— E como a sua irmã está arrumando?

— A sorte dela, é que ela ficou com a casa em que moravam os nossos pais. Sem emprego e sem estudo ela só consegue cuidar da menina, sobrevivendo com o pouco que a gente pode ajudar e da caridade dos desconhecidos.

— Nossa!

— Quando alguém aparece para visitá-la, ela não cabe em si de alegria. Pois passa a maior parte do tempo sozinha, sem ninguém para conversar sobre as suas amarguras. Mas a vida é assim mesmo, cada um colhe o que plantou.

— É hora de descer.

— Até outro dia!

 

LIVRO DE CASO COM O ACASO, ESCRITOR JOSÉ MARIA CARDOSO. A SER LANÇADO EM BREVE.

 

DE CASO COM O ACASO

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